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domingo, 30 de janeiro de 2011

História da Música IV

“Chovendo na Roseira”

No ano de 1967, Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim criava uma de suas mais importantes obras, a valsa “Children’s Games”. Composição brilhante do início ao fim, que conta com arranjos incríveis de Eumir Deodato e a participação do músico Joe Farrell. Cada minucioso detalhe desta canção foi elaborado com primor, desde o andamento, em compasso ternário, à melodia envolvente do piano do maestro.
 Em meio a tantas incríveis canções de Tom Jobim, esta se destaca por seu planejamento meticuloso e caprichoso, como todo bom mestre assim faz. Ao ouvir esta canção, é possível enxergar como ela foi escrita, concebida, sendo escrita com esmero, repensada e concluída com perfeição.
 Obra elaborada que, no decorrer de sua execução, ganha vida, cor e movimento. A composição instrumental, sem auxílio de palavras, leva o ouvinte a um cenário, cria personagens, seguindo um enredo com começo, meio e fim. Coisas que só a gênios cabe fazer.
 Sete anos depois, a música instrumental “Children’s Games” é batizada como “Chovendo na Roseira”, Aquela que era uma canção extraordinária, surpreendentemente, se supera ao receber letra e uma voz, a voz de Elis Regina.
 Tema delicado e complexo é trazer o encontro perfeito da melodias e letra, mas quando se fala de Tom Jobim, se fala de excelência. “Chovendo na Roseira” é um exemplo raro em que essa união foi perfeita. Não haveria melhor letra para tal melodia, nem melodia melhor para tal letra.
 Na música a união foi perfeita, mas fora dela nem tanto. A gravação do disco Elis & Tom, que levou a canção “Chovendo na Roseira”, foi conturbada do início ao fim. Tom demorou a aceitar o uso do piano elétrico, que era um desejo de Elis e de César Camargo Mariano, pianista, arranjador e marido de Elis. Aliás, outro contragosto do Tom era ter César como arranjador do disco, ele preferia e insistiu para que seu amigo Claus Ogerman fizesse os arranjos, mas acabou ficando nas mãos do virtuoso César.
Quando as gravações tiveram início, as diferenças e conflitos acabaram, claro que com muita cobrança de Tom sobre os arranjos de César. O resultado dessa história foi a épica versão de “Chovendo na Roseira”, que manteve a base primordial instrumental de “Children’s Games” com a voz indescritível de Elis Regina, que faz com que a música cresça, ganhe presença, com muita graça e sutileza. O disco em si virou uma obra antológica da música brasileira.
 Tom era maestro soberano, batizado assim por Chico, mas nem tudo de sua obra foi memorável.  Em 1981, gravou o disco Edu & Tom e regravou a canção “Chovendo na Roseira”. A nova versão de “Chovendo na Roseira”, não manteve o sucesso das versões anteriores. O volume da voz de Edu Lobo estava muito acima do instrumental que é o ponto forte desta composição. Além do que, a voz de Edu não tinha a versatilidade e riqueza que possuía Elis.
 Mas Tom é mestre, é soberano e “Chovendo na Roseira” merece ser ouvida, revisitada, estudada e admirada, em todas suas versões existentes.



Interpretação de Roberta Sá

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